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Por: Antonio Moacir Rodrigues Nogueira | Postado em: 22/12/2014

Foi reprovado? Partir para a dependência pode valer a pena


Repetir de ano pode ser uma experiência traumática, segundo especialistas em educação. Para tentar evitar que o aluno passe pela experiência de permanecer mais um ano no mesmo nível em que foi reprovado, algumas escolas brasileiras oferecem as chamadas dependências. Com elas, os alunos continuam sua vida escolar normalmente, ou seja, passam para o próximo ano, mas em outro horário continuam cursando as disciplinas na quais foram reprovados e ainda têm dificuldades. Mas será que essa é a melhor opção? Especialistas ouvidos pelo Terra analisam em quais casos as dependências são mais indicadas.

A professora de didática da Universidade Federal de Minas Gerais Angela Dalben afirma que a repetição de ano não é a melhor opção, porque pode prejudicar o interesse do aluno na escola ao afastá-lo dos amigos e que, portanto, a dependência pode ser a melhor maneira de recuperar a defasagem na aprendizagem. “A reprovação de um aluno porque ele não se saiu bem em provas de uma ou duas matérias pode prejudicá-lo pelo resto da vida. Principalmente no convívio com os amigos e colegas, que em determinadas fases da vida, estimula mais o contato com a escola. Quando a escola oferece a dependência, faz algo importante, evitando penalizar o aluno e não prejudicando a continuidade dos estudos, o que acontece na reprovação. Nem todo mundo é bom em tudo, mas todos podem crescer e se desenvolver”, opina.

Mas muitas dúvidas podem surgir na hora de decidir se vale a pena, no sentido de evitar sobrecarregar o aluno, que terá de lidar tanto com o conteúdo `pendurado` quanto com o do ano seguinte. É o que pensa a psicopedagoga e especialista em dificuldade de aprendizagem, Bianca Acampora. “Se as disciplinas forem muitas, a aprendizagem do aluno pode ser ainda mais prejudicada, pois ele não vai conseguir acompanhar todos os conteúdos. Pode acabar passando na dependência do ano anterior mas ficando precário nos conteúdos do ano que está cursando”, alerta.

Além disso, alguns conteúdos são pré-requisitos para a série seguinte; portanto, se o aluno não tiver domínio sobre eles, pode acabar se confundindo. “A dependência vale a pena porque o aluno não perde o ano inteiro, mas é preciso ter um acompanhamento pedagógico maior do estudante a fim de verificar se ele está sobrecarregado”, aconselha Bianca. Em alguns casos, vale mais a pena o aluno repetir o ano e aprender bem as matérias, principalmente se ele ficou pendurado em mais de duas.

A decisão de aderir à dependência ou não deve ser tomada após uma análise feita em conjunto entre pais, escola e o próprio aluno. Tanto repetir de ano quanto ficar em muitas dependências e não dar conta de todo o conteúdo podem desmotivar o aluno. É preciso avaliar qual opção traria maior equilíbrio entre o lado social e o acadêmico. Bianca dá a dica para encontrar esse equilíbrio: avaliar o aluno como um todo, analisando seu desempenho em todas as matérias, levando em consideração as opiniões de professores de várias disiciplinas, que podem ter visões diferentes sobre o mesmo estudante.

Já para a professora da faculdade de educação da Universidade de Brasília (UNB), Benigna Villas Boas, a dependência nem deveria existir. “Ela já é um mecanismo que mostra as dificuldades da escola em recuperar o aluno durante o ano. Mas se ela precisa existir, deve ser não só com o objetivo de tirar nota do estudante para ele passar, mas que realmente supere as dificuldades na matéria. Ou então ele estará apenas acumulando problemas”, afirma. Mas a professora é contra a reprovação: entre as duas opções, aconselha a dependência, para evitar que o ano letivo se torne repetitivo, invés de educativo. “Além de aumentar o número de alunos com defasagem em idade série no Brasil, a reprovação desmotiva o aluno nos estudos, pois certamente houve alguma aprendizagem no ano todo, que será repetida”, opina.

Vou cursar a dependência. E agora?

Segundo o Ministério de Educação (MEC), não há diretrizes específicas da União para as dependências em conteúdos escolares. Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, cabe às escolas e aos docentes estabelecer estratégias para recuperação dos alunos de menor rendimento.

Se a decisão for de cursar a dependência, é preciso prestar atenção em algumas características para que ela seja efetiva e realmente ajude o aluno. A professora Angela ressalta que não adianta oferecer uma dependência em um formato idêntico ao das aulas. “A dependência precisa ser colocada de uma forma positiva, para criar um desejo do aluno por ela. O professor que vai ministrar o conteúdo deve ser criativo e que consiga fazer com que o aluno cresça e aprenda o que não havia conseguido antes. Ele tem de sair da dependência sentindo que ninguém mais o segura naquela disciplina.” Além disso, ela recomenda que os horários também não sejam ruins, como acabar com o recreio do horário normal ou que as turmas não sejam um espelho da sala de aula regular, com 40 alunos e apenas um professor, evitando que se dê atenção personalizada a quem tem dificuldades.

Você pode encarar a dependência como uma oportunidade de finalmente aprender o que está faltando. Mas para o próximo ano, a professora Benigna dá a dica. “Conheça o projeto pedagógico e a forma de avaliação de sua escola. Não espere chegar no segundo semestre, quando os problemas já estão maiores, para discutir a questão com o conselho escolar e sua família.” Todos podem desenvolver dificuldades em certos conteúdos; o ideal é que o aluno tente contorná-las em conjunto com a escola durante todo o ano.

Fonte: DA REDAÇÃO - TERRA EDUCAÇÃO - 16/12/2014 - SÃO PAULO, SP