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Por: Antonio Moacir Rodrigues Nogueira | Postado em: 22/12/2014

Geólogo aponta as falácias e verdades sobre a relação do aquecimento global com as cidades - Aquecimento global: falácias e verdades


Esse final de ano de 2014 sepulta definitivamente as honestas e também as não muito honestas dúvidas que ainda subsistiam sobre a veracidade e consistência científica das teses e informações apontadas pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), organismo vinculado à Organização Meteorológica Mundial e ao Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). É fato, observa-se nas últimas décadas uma comprovada persistência de aumento das temperaturas globais e é certo que a atividade humana no planeta inclui-se entre suas principais causas. As consequências para a Humanidade desse fenômeno climático podem vir a ser catastróficas.

Bem, até esse ponto o problema está colocado, agora vamos aos fatos a ele associados.

Nenhum de nossos conhecidos problemas ambientais (ou de alguma forma relacionados a questões ambientais) graves e crônicos, como poluição atmosférica, poluição de águas superficiais e subterrâneas, contaminação de solos, enchentes urbanas, áreas de risco em encostas e margens de cursos d'água, perda e empobrecimento agronômico de solos agricultáveis, depauperação de corpos florestais ativos, crises hídricas, binômio erosão/assoreamento, degradação de mananciais de boa água, depleção do lençol freático, penúrias de mobilidade urbana, etc., tem no aquecimento global qualquer origem causal.

Foram e são problemas de enorme gravidade, capazes de, per si, sufocar econômica, social e ambientalmente o desenvolvimento brasileiro e a qualidade de vida de sua população, e que foram inteiramente gerados por nós mesmos, por nossa estupidez e irresponsabilidade, sem nenhuma participação de fatores outros como o efeito estufa e outros fenômenos de ordem planetária. Pelo contrário, alguns desses problemas, como os diversos tipos de poluição, a eliminação de corpos florestais e outros, integram o conjunto de ações humanas que colaboram efetivamente para o aquecimento global.

Perde o encanto e a decência, portanto, a atual cantilena de nossos administradores públicos que, espertamente, lançam agora às costas das mudanças climáticas globais a responsabilidade sobre esses terríveis problemas brasileiros, que nunca foram, por irresponsabilidade, por incompetência e por falta de respeito ao cidadão, devidamente enfrentados, evitados ou mitigados pelas mais variadas instâncias do poder público.

Sobre esse trágico rol de problemas crônicos, sim, o aquecimento global aparece como um fator dramaticamente agravante.

Alertemo-nos, no entanto, para que o aquecimento global não venha a ser levianamente utilizado como o bode que é introduzido na sala de visitas de uma casa já cheia de problemas gravíssimos e com cuja eventual retirada pretenda-se aplacar os anteriores insistentes reclamos de seus moradores.

Mais do que nunca coloca-se na ordem do dia de nossos governantes, como obrigação moral, a decisão radical, honesta e inequívoca de enfrentamento desses nossos problemas crônicos, hoje com a perspicácia necessária para que este enfrentamento sempre que possível se apóie em opções tecnológicas que concomitantemente tenham o dom de contribuir para o arrefecimento da parcela do aquecimento planetário induzida pela atividade humana.

Álvaro Rodrigues dos Santos é ex-diretor de Planejamento e Gestão do IPT, autor dos livros "Geologia de Engenharia: Conceitos, Método e Prática", "A Grande Barreira da Serra do Mar", "Cubatão", "Diálogos Geológicos", "Enchentes e Deslizamentos: Causas e Soluções" e "Manual Básico para Elaboração e Uso da Carta Geotécnica", além de consultor de Geologia de Engenharia e Geotecnia.

Fonte: Álvaro Rodrigues dos Santos